terça-feira, 27 de abril de 2010

“CONSCIÊNCIA NEGRA”


Não há consciência sem a valorização da História e de seus diferentes agentes.

Durante anos, a historiografia tradicional, dominada por uma visão européia imperialista, praticamente excluiu das grandes publicações os trabalhos históricos sobre civilizações de outras partes do mundo. Quando aparecia algum artigo, o conteúdo era, geralmente, carregado de visões preconceituosas, o que favorecia apenas o lado exótico (diferente/extravagante). O Brasil, ao longo de anos, seguiu a historiografia tradicional européia de visão imperialista. Neste caso, os livros e as metodologias utilizadas nas escolas, sejam particulares ou públicas, reforçavam a exclusão e o preconceito. É bom lembrar que nas primeiras décadas do século XX, o acesso à educação e às publicações (livros, revistas...) era restrito aos setores mais ricos da sociedade. Um monopólio intelectual que valorizava os feitos das camadas mais ricas e deixava de lado os feitos das camadas mais pobres, uma marginalização histórica dos menos favorecidos.
A educação brasileira foi, neste sentido, um instrumento de mera reprodução do pensamento europeu imperialista. Os mais ricos retratados como heróis nacionais e agentes de grande importância na construção histórica, enquanto os mais pobres, mestiços ou descendentes diretos de índios e africanos, eram retratados como meros ouvintes, figurantes passivos que não transformavam os rumos da História. Neste cenário, habituamo-nos a associar a figura do negro diretamente à do escravo, humilhado e subjugado, tratado como mercadoria. Algumas publicações, sejam livros ou periódicos (jornais ou revistas), ainda hoje, reproduzem tal abordagem preconceituosa e excludente. São inúmeras as imagens de negros em situações de exploração, humilhação ou dominação, o que impede a identificação e a consciência histórica de crianças que são bombardeadas, diariamente, por tais representações na escola, através de alguns livros didáticos, e em casa, através de alguns programas de televisão e de alguns filmes.
No Brasil, pós-Ditadura Militar (a partir de 1985), houve uma importante retomada da valorização da História. Alguns historiadores, pensando numa História mais próxima à realidade brasileira, priorizaram os diferentes agentes históricos, dos mais ricos aos mais pobres. Surgiram no mercado brasileiro, publicações sobre povos indígenas, asiáticos e africanos, forçando o acréscimo de tais civilizações nos livros didáticos escolares. Daí a grande evidência dada à história da África, resultado da postura diferente dos historiadores brasileiros e da crescente ação dos Movimentos Negros.
- Vamos a uma breve abordagem sobre a história da África?
A história africana é muito anterior à chegada dos conquistadores europeus. Não podemos esquecer que os fósseis mais antigos que tratam da ancestralidade do ser humano foram encontrados em solo africano. Desde a Antiguidade, identificamos civilizações africanas organizadas em: impérios, tribos ou grupos nômades sem Estado. Entre as várias civilizações, a do Egito é a de maior destaque, sendo admirada até hoje. Mas não podemos esquecer da civilização de Cartago (atual Tunísia), de Axum (atual Etiópia), de Gana, de Máli e de Songhai. As três últimas atingiram um alto grau de prosperidade por causa da mineração. Muitos povos de outras continentes já ocuparam áreas da África como, por exemplo: os fenícios, os gregos, os macedônios, os romanos, os bárbaros, os árabes... Sabemos que era comum a rivalidade entre os povos africanos, embora existisse um forte comércio interno e externo. Comercialização que envolvia até grandes navegações, antes da expansão marítima européia. No campo religioso, o Cristianismo e o Islamismo cresceram e conquistaram muitos fiéis, embora algumas regiões permaneçam com suas práticas religiosas antigas. A dominação européia foi a de maior impacto, muitas das dificuldades enfrentadas pelas atuais comunidades africanas são consequências diretas de tal exploração. Hoje, temos uma África repleta de problemas econômicos, políticos e sociais, porém repleta de possibilidades de pesquisas históricas. Precisamos saber mais sobre a África, para sabermos mais sobre o Brasil.
Contra a exclusão, os Movimentos Negros no Brasil lutaram e lutam, ainda hoje, por políticas públicas que priorizem a igualdade racial e o combate às práticas racistas. Uma recente conquista, apesar dos constantes questionamentos, foi a garantia das cotas nas Universidades Públicas. Perceba, amigo leitor, que a resistência negra ainda se faz presente no Brasil, uma luta constante para não ser excluída dos direitos constitucionais que deveriam atingir a todos os brasileiros. Daí a escolha de “Zumbi dos Palmares” como símbolo de tal resistência, o que resultou no dia “20 de Novembro” (data da morte de Zumbi, em 1695) como o “Dia da Consciência Negra”.
Professor: Valter Eduardo Lima

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